Decidi evitar a torrente de argumentações sobre o Oscar apenas porque Yuri, a criatura desaparecida, disse-me que faria alguns comentários utilizando-se de nossas maldades a respeito das produções das diferentes estrelas e dos diferentes "Who" que apreciaram a premiação.
Então, treze dias sem sequer um "Another One Of Our Love Songs" e eu ainda tenho a pachorra de surgir novamente com um tema, digamos, não muito apetitoso.
Mas, já entrando no assunto, darei uma pequena pausa para correr até a lotérica enquanto a chuva sossegou um bocadinho. Correr mesmo. Tudo para preservar o picuá lisinho como está.
Tenho a impressão de que o povo paulistano é o que mais segura a barra.
Cerca de 114.058 casais segurando a barra de planejar e executar um casamento. O mesmo número, aproximadamente, para as daminhas de honra que seguram a barra do vestido da noiva e, provavelmente, a barra de mães um tanto quanto psicóticas. 20.285 casais aguentando a barra do divórcio. 3,6 milhões de pessoas segurando a barra de apoio nos vagões do metrô a cada dia. Muitos milhões de habitantes segurando a barra do imposto de renda. E, enfim, 19.223.897 segurando as barras de seus guarda-chuvas e, vejamos, dois terços deles tendo de segurar as barras de suas próprias calças quando precisam caminhar em ruas parcial ou completamente alagadas/acidentadas.
Bons números para uma cidade só.
Confesso nunca, realmente, ter apreciado o fato de que a cidade onde vivo tem tamanha população. Exatamente porque não suporto a ideia de ter de entrar em uma estação de metrô ou em um ônibus e dar de cara com boa parte dessa imensa quantidade de seres humanos que são empurrados todos para um mesmo – não suficientemente grande – espaço.
Sim, tenho uma avassaladora fobia à espaços abarrotados e, por simplesmente ter nascido aqui, preciso lidar com essa minha fobia todos os dias da minha vida, ainda não tendo superado. De tempos em tempos, aliás, deparo-me com situações apavorantes, como o metrô do Brás de volta para a Sé às oito horas da manhã.
Muito pior do que a fobia, enfim, é notar que, em todos esses anos como a maior capital, ninguém pensou em investir um pouco mais no conforto dos cidadãos e na manutenção da própria cidade.
Como justificação, temos de engolir a desculpa de que os gastos com auxílio à população carente são grandes de mais. Que o gasto para cada pessoa ser transportada no sistema público é de um real a mais do que ela pagaria para ir e voltar. De que todo o lucro anual imenso e os impostos absurdos não são suficientes para garantir a sustentabilidade do que já deveria estar firme e ir muito além.
Oras, vamos. Todos sabemos que são muitas pessoas vindo para cá todos os anos. Tentando crescer e alcançar suas próprias realizações profissionais. E, obviamente, pouquíssimas conseguindo mudar o rumo de suas vidas e sair daqui. Então, estamos com uma sobrecarga. Um excesso que não parará de crescer e que, enfim, sofrerá ainda mais com a falta de mudança política para ampliar todos os recursos que fazem-se necessários.
Ou você nunca se deparou com uma situação de descaso público?
Eu, sinceramente, vejo todos os dias.
Vi, aliás, uma imensa campanha a respeito de todos os novos recursos implantados. De todas as mudanças. De toda a assistência. E, quando estou ao lado de um cadeirante (Por sinal, se o encontrar de novo, pedirei o telefone. Beijos, gatinho.) no ponto de ônibus, noto que absolutamente nada do que foi apresentado realmente funciona em prática.
Foram três ônibus especiais passando direto quando viam o rapaz. O quarto apenas parou porque o dono do bar logo ao lado atirou-se à sua frente. E, quando tudo parecia estar indo bem, a plataforma especial não podia ser recolhida. Por falta de manutenção, havia travado.
Esse rapaz foi xingado até o último fio de cabelo pelas pessoas que estavam amontoadas no interior do veículo e tiveram de descer porque, com as portas abertas, ele não se movia.
Como se não bastasse, enfim, após vários outros ônibus, o único que parou também sofreu de problemas com a tal moderníssima plataforma e teve de encostar logo atrás do primeiro.
Francamente, não é?
Tratando-se de transporte público, enfim, não podemos deixar de lado o claríssimo desrespeito àquela bela plaquinha "Limite máximo de passageiros". Afinal, quem nunca sequer viu passar um ônibus ou lotação com pessoas saindo pelas janelas?
Se não tratarem de investir mais em um outro meio de transporte para aliviar o trânsito e poder aumentar a frota do transporte público, em pouco tempo estaremos como Tokyo e teremos de contratar trabalhadores especializados em empurrar outros trabalhadores para dentro das câmaras sufocantes sobre rodas.
Nem falarei muito sobre as enchentes absurdas que vem acontecendo com frequência assustadora nos últimos dias porque tenho a consciência de que isso é culpa da população também. Mas eu poderia porque nunca joguei sequer um papel de bala no chão. Meus bolsos e mochilas tem mais papel do que se pode imaginar porquê, por vezes, eu me esqueço de esvaziar. Também, em casa, levamos até óleo para a reciclagem, o que nos garante, ao menos, uma consciência limpa.
Mas somos eu e minha mãe contra os outros 19.223.895 habitantes. Ou nós e outras pouquíssimas pessoas contra uma miríade de muitas outras.
O governo poderia ajudar? Poderia.
Não custaria mais colocarem finos alambrados em saídas de esgoto do que pagarem aluguel para todos os paulistanos que perdem suas casas em alagamentos.
Se o problema todo for dinheiro, então, por que não fazer como em muitas cidades européias e começar a cobrar uma multa exorbitante para quem fosse pego em flagrante poluindo e estragando patrimônio público mesmo que indiretamente?
Mas, enfim, não será agora que resolverão tomar tal atitude.
Então, por favor, vamos prestar um pouco mais de atenção aos pequenos detalhes. Nada de ficar pensando “Ah, tem um monte de lixo no chão, o meu não fará diferença”. Faz diferença, meus amores. O óleo que você joga pela pia só contribui para a formação de placas que obstruem as vias do esgoto. O lixo que você joga vai ajudar a bloquear o escoamento de água. O seu carro acabado e sem manutenção vai ajudar a poluir muito mais. A pessoa em quem você vota por brincadeira não contribuirá em nada para resolver a situação pública.
Somos muitos paulistanos, mas temos de notar que são nossas ações como indivíduos que dão curso a toda a história da cidade. Somos um todo, afinal. Não vai matar se esse “todo” for um pouco melhor.
São Paulo tem muita diversidade e beleza a oferecer. Colaborar para que seja perfeita apenas trará orgulho em um futuro próximo.
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