Estava passeando pelo cantinho underground da blogosfera e acabei deparando-me com uma polêmica que, de tão irrelevante para mim, foi completamente esquecida mesmo quando várias pessoas nas ruas ou em minha casa comentavam. Creio que criei um filtro mental para o assunto "carnaval". É automático. Alguma palavra relacionada surge e essa firewall mental eleva-se com eficácia da qual me orgulho muito. A mesma coisa acontece com estrelas pop de meia-tigela e funk, mas isso não vem ao caso agora.
Eu costumo dizer que de nada sinto o real ódio. Desprezo, desgosto, insatisfação e ojeriza eu sinto bastante. Sinto completa repulsa quando começa essa desmantelação típica de quem é falso-moralista o ano todo e para em uma semana para desativar qualquer opinião hipócrita e ir às ruas fazer sexo em vias públicas imundas e coisas do tipo.
Tudo é bom quando tratado de forma civilizada... Não, civilizada não porque nossa civilização está um tanto quanto putrefata. Quando tudo é tratado de forma moderada e comportada, não há mal. Temos celebrações em Parintins, por exemplo, que são belíssimas e bem organizadas. Sem essa – por meia semana – banalizada libertinagem. Mas é do Festival que os gringos falam quando veem um brasileiro ou quando vão comentar sobre o próprio país? Não, claro. A frase é: "Brasil! Caipirinha! Samba! Carnaval!". Isso quando não vão logo na lata e dizem "Mulher!". O que não é nada comparado a o que a maioria pensa e faz quando vem aqui.
Estou mentindo? Vá no chatroulette, por exemplo, e diga que é brasileiro. Se for mulher, cuidado, capaz do clima de carnaval subir à cabeça do pessoal de fora e você acabar com a visão prejudicada e um trauma para a vida toda.
Eu estou muito longe de ser uma pessoa conservadora. Mas simplesmente tenho aversão a esse comportamento ridículo que vem no ar como uma bactéria maldita. Detesto o fato de que pessoas que não tem o que comer, nessa dada época do ano, esquecem de todo o mal que sofrem porque são entretidas com alguns dias de muito circo e cerveja ruim com preço exorbitante.
"Mas, Lívia, você nunca pulou carnaval?" — Pulei. Quando era pequena e me fantasiava para dançar com coleguinhas de escola, jogar confete e serpentina no ar e brincar bastante. Mas, ainda assim, quando deixava-me ser levada para aqueles típicos bailes de clube, queria simplesmente usar meus pequenos dentinhos para dilacerar a carne dos bêbados que brigavam no salão e interrompiam a festa de todo mundo.
"Ain, você fala assim porque gosta de rock e não curte as músicas e é anti-social[Perdeu o hífen? Ficou? Mudou?]" — Vá introduzir objetos estranhos no seu orifício excretor de dejetos não reutilizáveis. Eu gosto de música nacional, gosto de samba, gosto de muitas coisas. Mas gosto do que é bom, certo? Aquelas velhas marchinhas com um toque de malícia muito da inocente. Aquele samba gostoso que não é apenas composto por três sílabas de vogais semelhantes. E eu não sou anti-social[?]. Aprecio muito a relação com outras pessoas, mas unicamente quando essas mesmas pessoas tem algo a me oferecer. Não tenho o mais vago interesse em quem fornica com vinte e três estranhos em uma noite só, em locais evitados até por baratas e ratos.
"Mas nem todo mundo é assim. Ai, sua ignorante" — Procurar a palavra "ignorante" no dicionário é um bom começo. Digo isso para todas as pessoas que jogam esse termo no ar. E eu sei que nem todo mundo é assim, exatamente por isso disse que aprecio festivais culturais, boa música e pessoas de qualidade que, consequentemente, tem gostos semelhantes.
Sei que não sou a única a detestar isso. Encontrei pensamentos semelhantes no Red Hair Tattoo e também no ótimo texto do Desfavor. Sintam-se livres para compartilhar do delicioso sentimento que vem com a constatação de que você não é um estranho nessa terra de pessoas cegas.
Por fim, deixo com vocês os ótimos – e exatíssimos – comentários de Rachel Sheherazade (Que nome, heim, amygha?) a respeito dessa distração comercial pessimamente fundamentada.
"Eu até acho que o carnaval foi bom. Mas, isso foi nos tempos de outrora."
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