Carnaval (2)

domingo, 6 de março de 2011

     
Não, eu não estou voltando atrás em tudo o que disse. Essa postagem iniciou-se às duas horas e cinquenta e cinco minutos, após uma hora e vinte de sincera apreciação de um desfile de escola de samba.
A Unidos da Tijuca fez com que eu e o Math vibrássemos alegremente com cada detalhe em memória de aspectos de filmes que tanto amamos ou que são conhecidos mundialmente (Ou ambos). Paulo Barros revolucionou e levou com maestria tudo o que sonhou colocar em prática em sua – como diria o pessoal do IÉB: Megaputaquiparível –  obra "Esta Noite Levarei Sua Alma". 
Como a mensagem que passou-se na tela, durante o desfile: "Ele é um E.T.? De onde tira tanta criatividade?"


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O (riquíssimo e cheio de detalhes)  carro abre-alas

      Quase não tenho palavras.
Primeiramente não dei um tostão furado para a comissão de frente, mas não notei que comecei a ver quando já estavam completamente ajustados e, então, aplaudi o truque simples de deixar cair cabeças simplesmente porque a atuação dos componentes dava a magia necessária. Além de que, óbvio, eu tenho uma pequena quedinha por desmembramentos. Também amando a atuação do "Lanterninha" que me conquistou completamente com suas perninhas trêmulas.

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Cabeças cadentes

Tivemos um carro alegórico com tantos detalhes que chegava a atordoar. Almas brancas e uma imensa estrutura representando Caronte, o barqueiro. 
Transformers – cuidadosamente escolhidos por estatura – que usaram, no tripé, aquele truque já conhecido na internet da fantasia que, com um agachamento, torna-se em um perfeito carrinho.
Uma alegoria inteira baseada no filme Avatar, com direito a um imenso Toruk animado que, com suas asas, quase ocupava toda a avenida do alto. 
Capitão Gancho em uma ótima sacada, colocado de pernas abertas a equilibrar-se sobre a boca aberta de seu perseguidor crocodilo.
A loucura dos cinéfilos com clássicos muito bem representados. A abertura de Star Gate que trouxe a marcha de Stormtroopers e um Darth Vader (Bem notado pelo Math, aliás). Um carro alegórico que trazia as características de três dos quatro filmes de Indiana Jones, além do personagem principal em si a correr e saltar para escapar de uma pedra que rolava e escondia-se com explosões de pó branco. Fantasias a relembrar os Ghostbusters. Dezenas de componentes atuando como Freddy Krueger. Um tubarão que surgia entre trinta mil litros d'água e engolia um mergulhador em pleno desfile.

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 Pessoas a guiar velociraptors de mandíbulas animadas. Caracterizadas como personagens do filme A Múmia. Como Predadores. Como Robin Hood. Espantalhos assassinos. E até cento e trinta gorilas, dos quais 16 eram alpinistas profissionais que saltavam em cordas como parte da decoração viva do carro que relembrava "Nas Montanhas Dos Gorilas". 
Mas, confesso, dei especial atenção à ala de "Priscila, a Rainha do Deserto" e a seus componentes Drag Queens que equilibravam-se perfeitamente em saltos de dezoito centímetros, ladeando um ônibus purpurinado que ostentava um imenso scarpin que, por sua vez, elevava "Priscila", completamente iluminada com LEDs brancos a faiscar em sua fantasia.

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Sem contar, é claro, o meu momento de deleite como Potterfan. Um carro especial de laterais decoradas com Edwiges luminosas a segurar cartinhas nos bicos bem moldados. E, o principal, um estrutura bem desenvolvida que fazia com que uma enorme mesa com – se não me engano – trinta cadeiras elevasse-se a oito metros de altura e fizesse girar ao comando de Alvo Dumbledore enquanto os "alunos" mantiam-se sentados de queixos caídos.

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     O samba-enredo era contagiante, prendendo-se na ponta da língua como um bom sabor. Todo o sambódromo levantou-se para aplaudir e vibrou em motivação quando um dos únicos erros técnicos decorreu-se, elevando e ovacionando quando, finalmente, a mesma falha foi resolvida poucos minutos depois.
Juro nunca mais perder qualquer desfile da Tijuca enquanto Barros alí estiver para nos encher os olhos e o coração com a esperança de que o carnaval não resuma-se à decadência. 

       Fiquem com a sinopse de todo o enredo desenvolvido. 
Tenho certeza de que, em breve, poderão encontrar fotos do desfile pela internet e, especialmente, no site da escola.

Todas as noites vocês voltam. Arrastam-se até aqui, pagam, entram e, em pouco tempo, estão rezando para sair. Mas não há como desistir. Depois que embarcam, não têm mais forças para levantar antes de chegar ao final. Precisam saber como tudo vai terminar ou nunca mais encontrarão tranquilidade. Serão incapazes de permanecer sozinhos, tremerão a cada ruído, perderão os sentidos, vagando durante noites de pavor. Então, venham…

Entreguem suas almas, descubram suas fraquezas, encontrem o fim. Todos têm o mesmo rosto: a boca trincada, os olhos de espanto, as mãos frias, o medo de atravessar. Retorcem seus corpos nos assentos, não conseguem se mexer, sair do lugar, enfrentam cada etapa. Querem o escuro e o silêncio. Estão imóveis, apavorados, indefesos. A expressão de horror acompanha o choro, o lamento, o grito, o grunhido, a explosão, o ruído, as máquinas de destruição. A ameaça pode assumir qualquer forma. Pode estar em qualquer lugar. Alguns virão para defendê-los. A maioria virá para destruí-los…

E, através dos séculos, o desejo da conquista espalhará luta e sofrimento. E o mundo se dividirá entre os homens da guerra e os homens da paz. Algozes e vítimas. Senhores e escravos. Não importa onde: nas aldeias, nos campos, travam batalhas que derrubam corpos nas areias e pelas cidades; na Terra ou em outros planetas. Virão de todos os lugares. E vocês permanecem assim: assistindo a tudo, vendo cada cena e se emocionando. Segurando a espada e sentindo a dor do ferimento, a tristeza da perda, o temor do próximo ataque. De onde virá? Forças estranhas vêm do além, seres fantásticos atravessam o espaço devorando planetas. Nada sobrevive ao seu poder devastador.

Destemidos? Sim, mas até quando…

Talvez se vocês tivessem escolhido uma vida mais tranquila, no campo ou numa cidadezinha do interior… Será? Cada um colhe o que planta. E esse pode ser o começo do fim. Não adianta se esconder, ele vai te encontrar. E pode ser onde menos se espera. Nas brincadeiras divertidas da infância, na entrega ao riso fácil quando se desarmam as defesas. Na procura pelo segredo que jamais deveria ter sido revelado. Cuidado, lá se esconde o terror. Como se livrar dele?

A maldição, para alguns, deve arder na fogueira. Para outros, é preciso punir o mal, enfrentando aqueles que causam tristeza, morte e dor. Não importa. Herege ou bruxo, demônio ou santo, quem encontrar a resposta poderá ser a próxima ameaça a ser controlada.

Estão com medo… Por que ainda temem, se já embarcaram e não há mais nada a fazer? Já sentiram isso antes? Certamente, porque aqui estão. Então, prossigam… Vençam suas batalhas, enfrentem suas assombrações. Mas sem esquecer que elas voltam, sempre voltam… Por mais que vocês tentem se livrar, elas querem vingança e não desistirão. A maldição nunca será vencida, ela não termina, ressurge quando já não mais se acredita que possa existir. Vocês podem até se esconder e rezar. Mas não vão escapar. Quando a extinção termina, o desafio começa. Seres pré-históricos, violentos, abomináveis. Tenham medo, porque esse pode ser o último mergulho… Talvez eles sequer estejam vivos. Muito além da morte e da imaginação, haverá uma aventura que viverá por toda a eternidade. Sobrevivam a ela, se forem capazes. E, se não forem, peçam ajuda.

Podem acreditar que estarei sempre ao lado, espreitando… Aguardando o momento em que, exaustos, vocês desistirão. E se entregarão, sem luta, à impossibilidade.

Não sentem a brisa quente e o perfume delicioso dos frutos, só o calor sufocante? Desejam o descanso da longa travessia? Sofram, então, porque não é possível voltar. Esta viagem não tem retorno. Em pouco tempo, sentirão o peso dos grilhões, a dor da chibata, o sofrimento do exílio, o desejo pela liberdade.

Mas o que está acontecendo aqui? Não me obedecem? Por que continuam a resistir, se não haverá um só homem de pé que possa testemunhar tanta bravura? Todos irão comigo e desaparecerão. Novos tormentos virão, crueldade, ignorância, estupidez. Não querem aceitar o domínio? Não desistem jamais? Lutam contra a opressão, querem voltar para casa? Caminham juntos, aos milhares, aonde irão? Não percebem que não adianta? Ninguém voltou jamais, acreditem! Que força é essa a que assisto sem nada poder fazer? Como trazê-los de volta ao pesadelo? Pareciam tão frágeis ao menor sinal de tempestade, e, no entanto, renascem! Afinal, o que os assusta realmente? Pareciam mortos de medo, incapazes de reagir e, agora… Como ousam? Me enganam e zombam de mim? Para onde estávamos indo? Não podemos mais voltar porque, enfim, chegamos. Aqui estamos. Esperavam por nós.

E vocês se divertiam comigo esse tempo todo, não? Então, me enganavam? Mudavam sem que eu percebesse? Só agora entendi que me conduziam, faziam de mim personagem de um filme em que eu não poderia decidir o final. Nas telas ou na vida real, dominam a arte do começo sem fim. Recomeço. Aí estão, deixando para o futuro a ousadia de um passado sem medo. E, a cada ano, surgem novos personagens, novas histórias de lutas e glórias. De simplicidade e força. Porque têm a certeza de que o que está na outra margem é mais um motivo para eternizar a vida. A história de um povo de coragem, que possui o surpreendente poder de se reinventar. Fim?

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