Nesse dia vinte e um eu fiz um vestibulinho para entrar em uma unidade pública de ensino técnico aqui de São Paulo. E o tema desse post será, inicialmente, sobre esse dia que me fez passar por tantos problemas que, prometo, esforçarei-me para não comentar.
Temos todo um programa de conscientização e luta contra o preconceito de todas as formas, mas as pessoas parecem não notar que, nesse caminho errado, elas mesmas estão gerando muito mais preconceito e estão mostrando claramente que veem uma diferença e uma desvantagem, diferenciando e tratando seres humanos como se fossem dignos de pena.
O governo com suas cotas e pontuações mostrando para quem quiser ver que, com toda a sinceridade, acredita que as pessoas com deficiência física ou simplesmente com a cor diferente não tem capacidade comum. Certo que é óbvio que se não existissem certas medidas, haveriam aqueles que fariam questão de não permitir a vivência de algumas pessoas, mas isso é ridículo.
Eu tive de resolver toda uma série de complicações em pleno domingo, o que me atrasou completamente toda a preparação e ainda assim, como sugeria o manual do candidato à vaga na escola, cheguei com antecedência. E, quando estava em minha sala, aguardando o início da prova, comecei a escutar gritos vindos do lado de fora. O motivo apenas me contaram quando deixei o prédio.
Um rapaz deficiente, assim que os portões fecharam precisamente às 13:30 (como havia sido dito que seria impreterivelmente), surgiu a esforçar-se incrívelmente para tentar correr e alcançar a escola. Todos revoltaram-se porque o mesmo não pode entrar e, enfim, os organizadores cederam e o deixaram participar.
Todos nós vimos a confusão e a tristeza de muitas pessoas presas no trânsito no dia do vestibular, não vimos? Todos nós sabemos e estamos acostumados com as vias letárgicas das cidades. Todos nós temos ciência de que pode acontecer algum problema no caminho. Todos nós temos conhecimento de nossas limitações físicas e todos nós tivemos a disponibilidade de um manual completo a sugerir e regulamentar claramente vários tópicos.
Então, por que essa pessoa não saiu mais cedo de casa? Seriamente, ela tinha plena consciência de seu estado físico porquê, obviamente, não tornou-se deficiente de uma hora para a outra. Então, por que ela não saiu mais cedo de sua casa? Que fossem três horas antes. Que pedisse carona a um parente.
E não estou revoltada com o pobre do rapaz, porque eu compreendo que ele deve ter sofrido muito para chegar, mas era obrigação dele fazê-lo de uma forma que não exigisse tamanho desespero. Assim como seria atirado em nossas faces que deveríamos ter feito, caso fossemos nós os atrasados.
E haviam pessoas atrasadas. Todas elas com seus respectivos motivos. Mas nenhuma delas entrou após o tempo determinado.
Quando é feita a inscrição para a prova, deve-se marcar os campos "deficiência", "escolaridade pública" ou "afrodescendência" caso necessário.
No caso da deficiência, venhamos e convenhamos que é necessário, mas não deve-se generalizar de forma alguma. Por quê? Bem, uma pessoa muda pode fazer uma prova sem problema algum, já que mantém perfeito estado mental. Assim como faz um cadeirante. E os com deficiência auditiva? Pois bem, se a pessoa houver nascido na época em que não haviam recursos para que sua escolaridade fosse completa independente de sua incapacidade de escutar o que era dito, deve-se ser contado. Mas e os jovens? Todos cresceram, assim como eu, em meio à uma realidade de letras e números. De escolas com recursos, de bolsas para tratamento, de ajuda.
Isso é preguiça! É preguiça dos governantes de nosso país. Porque não querem dividir e explicar as necessidades. Catalogar. Porque tem medo de que a população, aproveitadora como é, faça meios errados. Porque simplesmente não querem se ocupar com os resultados.
Já na escolaridade pública. Bem, isso é completamente certo já que muitas escolas públicas (em sua maioria) não propõe todo o desenvolver do aluno. Mas, o campo requeria, pelo menos, três anos de escolaridade pública. Alguém me explica?
Será que é necessário ter três anos de atraso para fazer uso de uma pontuação de assistência? Eu tenho um ano de escolaridade pública e 90% da prova era composto por assuntos dos quais eu jamais havia escutado sobre.
Tem mais, muitos estudantes de escola pública rebolam para tentar alcançar o nível de um aluno com mais recursos. Eu, ao menos, estudei tudo o que me cabia estudar e tudo que eu sabia existir. Como, por tudo o que vos é sagrado, eu poderia estudar sobre algo desconhecido?
Ademais, mesmo com os três anos requeridos, eu teria vergonha de fazer uso de pontuação acrescida. Porque alguém poderia ter ido muito melhor do que eu e se esforçado e eu estaria lhe tirando a vaga por isso.
Agora a afrodescendência. E eu já prevejo a irritação de algumas pessoas só porque eu estou mencionando isso. Mas eu não tenho medo de questionar e realmente sei que muitas pessoas pensam da mesma forma. Também sei que serei acusada de racismo e preconceito, sendo que eu sou a última pessoa do mundo a enxergar a diferença. Sendo que normalmente me jogam nas fuças e me fazem separar as pessoas das outras.
O preconceito já se forma por causa dessa vantagem. Por que um negro tem vantagem na hora de uma seleção? Se a pessoa estuda e tira mais, se ela se esforça e é mais inteligente, ela passa. Mas só porque ela é negra...? Céus! Ela é negra! Ela só tem a pele poucos tons mais escura do que as pessoas de pele branca! Por quê, então?! Porque a cor interfere mentalmente? É isso?
Eu sou filha de mãe branca e meu genitor é negro. Não sou rica, minha mãe rala insanamente, eu não estudo em escola particular e não recebo pontuação extra. E, sinceramente? Se fosse negra, não iria querer. Porque isso é uma humilhação. É como se fosse dado um atestado dizendo "Eu sou incapaz porque tenho pela escura, por isso preciso de auxílio". Negros raramente são ricos, portanto, raramente podem estudar em uma escola paga, e por isso as chances de passarem no vestibular são mínimas, ainda assim, eu acho que a cota deveria ser para as classes baixas e desfavorecidas.
"Negros raramente são ricos". Gente, por favor, o nosso país é composto quase inteiramente por pessoas pobres. E, às vezes, me parece que as pessoas de pior classe são as que tem mais coisas de qualidade logo após os ricos. São favorecidas! A classe média, então, é a que mais se lasca. Pagamos impostos absurdos e não temos direitos!
Se os negros daqui raramente são ricos, é porque todas as pessoas raramente são ricas! Existem aqui e não tem recursos, por isso são pobres. Não são pobres porque são negros!Céus, isso dá assunto pra muito post, realmente. E minha cabeça já dói só de imaginar todo o nervosismo que eu passaria apenas por pensar a respeito. Porque as vezes me parece que eu sou a única a pensar nas desvantagens impostas pelo mundo todo.
O que está errado com o mundo?
Vamos todos tomar vergonha nessas nossas tão diferentes caras e passar a pensar nas divergências errôneas de consciência que temos de começar a erradicar.
4 comentários:
Concordo com você Lívia , parece, ao meu ver que não estamos buscando igualdade que tanto almejamos e sim facilidade em tudo que nos diz respeito a igualdade. Nós tratam assim, simplesmente por ser "Confortante" e fácil para muitos, mas apenas mostra-me a tristeza de ser tratado de certo modo.
Tristeza também saber que poucos obtêm a capacidade de perceber certo trato .
Espero que tenha compreendido o "nós-lírico", por assim dizer.
HEHEHE ;P
Compreendi sim.
Enfim, creio eu que o ser humano realmente sofre da triste capacidade de excluir certos fatores apenas por uma reação instantânea de defesa. Não querem ter sua integridade psicológica (construída com a educação de toda uma vida) afetada e acabam sendo hipócritas em uma miríade de sentidos.
Afinal, pode-se dizer que é um ciclo sem fim. Isso sempre acontecerá. Permanecerá assim porquê, desde o começo, já foram todos criados para tal comportamento.
Mas para sempre ? Não sei se tal comportamento será eterno, O que podemos classificar com eterno afinal ?
Well, aparentemente a sociedade não se sustentará por muito tempo. E, se ainda conseguir se manter aos trancos e barrancos, o planeta não aguentará. Pode-se dizer, então, que o comportamento não perdurará se não houver vida. Palmas para isso.
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